EUROPA_19: Sul da França: Carcassonne_4

Ver posts anteriores: 1, 2 e 3 sobre Carcassonne.

 "Mas não tem emoção maior do que ver uma cidade acordar. Ver as pessoas saindo para comprar pão, para ir trabalhar, os animais andando preguiçosos pelas ruas ainda acordando com a agitação ao redor".
Já passava das 21h30 quando a noite começou a chegar e decidi caminhar um pouco pelo lado de fora das muralhas antes de voltar à Abadia. Daí fui vendo todos os comércios fechados, algumas luzes sendo acesas nas casas, a rua por onde o ônibus tinha vindo bastante tranquila e decidi que seguiria pelo caminho que ele tinha feito porque queria ter aquela visão que tive da cidade medieval no alto e queria vê-la com as luzes da noite. Caminhei e caminhei e nada, fui prestando atenção em tudo ao meu redor, encontrei um mercadinho que atendia as pessoas que queriam comprar algo até às 22h. Pensei muito em ir até lá, mas desisti. Não sabia o que queria comprar. Se pudesse andar pelas prateleiras talvez descobrisse algo, mas para pedir em francês e sem saber o que queria seria complicado demais.
  
Continuei andando um pouco fascinada com a ponta de uma antiga construção medieval que tinha visto desde as muralhas e que eu sabia ser medieval. Era muito alta e depois descobri ser uma antiga igreja. E então lá estava ela a minha esquerda toda iluminada. E enquanto andava me lembrei que a cidade tem uma antiga ponte também e depois de caminhar uns tantos minutos consegui o que queria: uma vista linda e maravilhosa de toda a cidade medieval iluminada e a ponte. Tirei muitas e muitas fotos.
Tinha outros turistas por ali também procurando pelo melhor ângulo. Satisfeita voltei ao hostel, comi algo, olhei mais um pouco através da janela e dormi. Acordei cedo, abri a janela. Deixei tudo pronto para voltar as 10h e pegar minhas coisas. Às 8h já estava caminhando novamente pela cidade e dessa vez tinha que tudo o que faltava ver: o castelo, a basílica de Saint-Nazaire e o museu da Inquisição. O problema é que a igreja abria ás 9h e o museu também. O meu trem a Nice saia às 13h, mas que eu tinha decidido chegar na cidade às 11h porque precisava usar a internet.
 

O passeio desse dia foi lindo. Se a cidade já parecia ser linda e cheia de mistérios à noite, durante o dia ela tinha uma aura de simplicidade que somente as cidades pequenas conseguem ter. Era ainda muito cedo, antes da chegada dos turistas. Os restaurantes ainda estavam fechados, eu caminhava entre os trabalhadores carregando os suprimentos para os restaurantes e cafeterias da cidade medieval. Via gente saindo das poucas padarias com suas baguetes e pães pela mão. Alguns me olhavam claramente estranhando uma turista por ali tão cedo. Mas não tem emoção maior do que ver uma cidade acordar. Ver as pessoas saindo para comprar pão, para ir trabalhar, os animais andando preguiçosos pelas ruas ainda acordando com a agitação ao redor. Andei por partes da muralha que não tinha ido na noite anterior, realmente estava decidida a fazer todo o outro lado. Tirei fotos, vi um casal de jovens apaixonados, vi o poço da cidade. 
Um detalhe: se for a qualquer cidade medieval não deixe de procurar o exato local onde fica ou ficava o poço da cidade. Este pequeno lugar sempre foi o ponto principal destas cidades, já que todos iam até ele buscar água para cozinhar e em torno dele sempre se instalavam os principais lugares de comércio e isso significa que estas serão as construções mais antigas. O de Carcassonne está ali quase na porta do castelo. É lindo. Ok, coisas de historiador.rsrsrs Fiquei encantada e passei por ele diversas vezes e fui ao castelo que estava fechado. Mas não me importei nem um pouco porque mesmo do lado de fora é possível vê-lo com todo o se tamanho e imponência. E ali perto tem uma pequena praça com um banco de madeira onde me sentei para ver os moradores andando pela cidade e admirar o castelo. Tive muita sorte porque no fosso do castelo estavam duas pessoas que pela conversa que consegui captar entendi ser um historiador que estava contando ao outro jovem sobre a construção do castelo e mostrava na construção a datação do mesmo. 
Claro que por não saber francês não compreendi muito, mas apenas o suficiente para ficar ali captando o que entendia das explicações já que o historiador apontava e mostrava bastante sobre cada coisa que falava. Vi algumas pessoas levando suprimentos para dentro do castelo e foi muito interessante ver as pessoas, exclusivamente homens passando pela ponte em direção ao castelo.



 

 
Depois de um tempo saí dali porque já tinha dado a hora da igreja estar aberta. Fui até lá. É uma das igrejas mais antigas da França, e veja que lá é um lugar de ter muitas igrejas antigas, mas esta em especial sobreviveu ao tempo e seus vitrais e sua estrutura maciça impressiona. 

 

 
Ah e tem umas gárgulas impressionantes, realmente assustadoras, que mais parecem pequenos demônios. A basílica de Saint-Nazaire tem um objeto histórico que eu realmente queria ver com meus olhos: uma pedra da época das Cruzadas e a imagem em relevo de um cruzado numa das paredes. A pedra data da primeira metade do séc.XIII e diz-se ter sido usada como cadeira por Simon de Monfort, chefe da cruzada anglo-normanda que mandou matar todos os moradores da cidade neste mesmo séc., no ano de 1209. Outros historiadores acreditam ser parte do túmulo de Simon. A grande importância histórica dela é que está repleta de relevos com fragmentos contando o cerco que sofreu a cidade naquele então.
Ao entrar nesta igreja somos imediatamente transportados no tempo. Ela é escura, austera, românica e gótica em todos os seus pontos. Tem magníficos vitrais dos mais variados séculos. Desde o XIII até o XIX. 

 
A pedra está do lado esquerdo do altar e nesta mesma direção na parede está a imagem de um cruzado. Já está tão pagado pelo tempo que é difícil tirar uma foto dela. Tive que bater com flash, sem flash e mais de uma porque a imagem deste homem, deste soldado de Deus como era chamado na época é bem grande. Mas os detalhes são incríveis.Eu não tinha conhecimento desta imagem, somente da pedra, talvez porque está tão claro que quase não se percebe. Não deixe isso acontecer com você. Olhe para tudo, para cima, para baixo, tudo!
A imagem inteira do Cruzado.
Detalhe da imagem: parte superior.
Detalhe da imagem: parte inferior.
Saí rápido da igreja em direção ao museu da Inquisição, pois tinha apenas meia hora antes de voltar ao hostal porque o check out era às 10h. A entrada custa 9 euros, mas não consegui achá-lo! Incrível, consegue acreditar nisso!? Nem eu. Eu estava com o folheto na mão, na rua certa, mas o número não existia. Onde deveria ser o número havia uma pequena galeria de arte, se posso chamar assim. Entrei, olhei as lojas, perguntei sobre o museu e me informaram que estava fechado. Eu não conseguia entender se não tinha aberto ainda ou se estava realmente fechado por algum motivo. Enfim, depois de ir e vir diversas vezes e ver que o número não existia percebi que não tinha mais tempo e sai da cidade me despedindo de todas as pedras e esquinas do caminho. Peguei minha mochila na abadia, agradeci ao senhor que tinha sido tão simpático comigo e fui esperar o ônibus, que tem o ponto final exatamente onde tinha descido no dia anterior. No ponto tem os horários diários do ônibus, assim podemos ir a qualquer hora e ver os horários e se programar. Eu precisava pegar o de 10h15 porque o próximo seria apenas às 11h e eu precisava encontrar uma internet. Despedi-me da Cité Medievale de Carcassonne e fui conhecer um pouco da Carcassonne que surgiu ao redor dela, ou como também é chamada, a cidade baixa de Carcassonne.

Desci no mesmo ponto onde tinha esperado e nem precisei da ajuda do motorista porque realmente é uma cidade pequena e o centro com a sua pracinha é o lugar onde está todo o movimento. Tentei deixar minha mochila na estação porque estava pesada para andar pela cidade procurando por algo e o policial, que falava um pouco de espanhol me explicou que ali não tinha nenhum tipo de locker e que nenhuma cidade pequena da França possui, muito menos uma cidade como Carcassonne por ser histórica, pois eles têm medo de um atentado terrorista. Assim que não teria como deixar minha mochila ali e aí eu apelei que estava pesada e por ser mulher seria difícil caminhar tanto tempo com ela nas costas. Claro que se não tivesse jeito teria feito isso e ela tampouco estava tão pesada assim, mas eu não poderia ser tão rápida quanto precisaria e por sorte ele me disse que eu poderia tentar com a senhora que trabalhava na agência logo na esquina. Agradeci me bom francês e fui até lá. Uma senhora muito simpática me atendeu, me disse onde eu poderia conseguir usar a internet e que sim, que eu poderia deixar minha mochila ali. A deixei num canto embaixo de uma mesa e lá fui pela rua principal da cidade, observando as lojas, as pessoas, tudo. Por fin encontrei uma livraria que também parecia ser uma biblioteca onde perguntei se era ali que eu poderia usar a net  e ela disse que sim e que eu não precisaria pagar nada. A internet era gratuita e eu a poderia usar por tempo ilimitado exceto sites como facebook e de bancos por conter acessos pessoais todos os outros estavam à disposição. Gente, coisa de primeiro mundo. O lugar era lindo, revisei rápido meus emails, mandei um sinal de vida para a minha família, entrei no site do hostel e confirmei, por fim, a minha reserva, já que estaria chegando me Nice naquele mesmo dia por volta das 19h. Não poderia imprimir, mas não tinha problema, esperei chegar a confirmação no meu email, agradeci e caminhei mais um pouco, já bastante tranquila. Passei no mercado, comprei algumas coisas para comer na viagem, agradeci a senhora da agência e fui para a estação esperar o meu trem.
Esqueci de comentar algo sobre essa busca incessante por internet. Dentro da cidade murada tem um hostel do Hostelling Internacional onde os hóspedes têm acesso a internet. Eu fui até lá e pedi para usar, mas falaram que não tinha como já que eu não estava hospedada com eles. Mas foi o único lugar. Estive também num hotel dentro da cidadela que oferecia o serviço de internet, mas eles cobravam e caro para usar. Eu até pensei em anotar o endereço do lugar onde consegui usar a net para quem for viajar e precisar como eu, mas não é preciso porque só existe este lugar ma cidade, assim que é só ir perguntando que não tem como errar.
Quando o trem chegou olhei mais uma vez para aquela deliciosa cidade e dei meu adeus com um grande sorriso, pois senti que ali eu deixava para trás uma parte muito importante da viagem naquele país: a França Histórica. A França de Paris, do Mont-Sant-Michel, de Langeais, dos castelos e adentrava na França do Glamour, dinheiro e celebridades. Não mais a França dos livros. Agora seria a França das revistas. Seguia para Nice. Deixava a história para conhecer um pouco de muito, muito glamour. PROCHAIN ARRÊT (próxima parada): Côte d’Azul!

Comentários

Postagens mais visitadas