O que alguém precisa saber sobre São Peterburgo?

Muuuuuuuuitas coisas.

Fiz 6 (inesperados) meses de Rússia! E por isso farei um post duplo! Neste, terão uma visão geral sobre São Peterburgo e clicando aqui poderão ler sobre Moscou.

Começando por: chove muito. Inverno, primavera, verão. Tanto que apartamentos e hostels têm um ou mais guarda-chuva para emprestar aos hóspedes. E é bom trazer o seu porque chuva aqui não é fininha, não é pouca e não é rápida. O clima da cidade é conhecido por ser bem instável. Por isso, para fazer passeio de barco recomendo comprar no momento. 

NÃO COMPRE online com hora marcada, por mais desconto que tiver, pois no dia e hora pode estar chovendo à cântaros e fará o passeio do lado de dentro e talvez duas horas depois o céu pode estar limpo e até com sol.

É uma cidade gostosa para estar. É totalmente plana, tem muitos rios e canais. Edifícios antigos. Muitos museus. Muitos restaurantes e cafés bonitos e charmosos. É uma cidade bastante harmônica. Nada é muito exagerado ou chamativo em seu exterior. Friso aqui a palavra exterior porque os interiores dos palácios são de cair o queixo com tanto ouro, pedrarias e opulência.

É uma cidade linda? Sim e não. St. Peterburgo é bastante contrastante pois ela é ao mesmo tempo charmosa e decadente. Quando cheguei, a minha primeira palavra e impressão sobre ela foi: como é decadente! Não era, de jeito nenhum, o que eu imaginava que seria e não conseguia entender por que todos os blogs que li só diziam que era linda quando tamanha decadência estava por toda parte. Para mim foi um choque depois de ter estado em Moscou e tê-la achado incrível. Na verdade, o que eu esperava encontrar em São Peterburgo eu encontrei, sem esperar, em Moscou. Cheguei a comentar com minha família no meu segundo dia aqui: “Acho que os turistas só ficam ali na região do Palácio de Inverno/Museu Hermitage e não caminham pela cidade em si e por isso tecem tantos elogios”. Só aos poucos ela foi me ganhando e comecei a ver St. Peterburgo e percebê-la como bonita. 


Quem foi acompanhando minhas fotos foi percebendo esse encantamento aos poucos. Se não fosse pela pandemia, que me fez estar aqui muito tempo, eu não teria descoberto a essência e a beleza desta cidade.

A decadência está porque foi vítima de sua própria história: ela foi criada para brilhar! Para ser a representação dos Czares e seus gostos europeus e quando veio a Revolução Russa, esse brilho foi condenado e quando a capital do país foi transferida para Moscou ela teve uma “morte” rápida já que ela significava tudo o que o governo revolucionário precisava mudar. Digamos que St. Peterburgo deixou de ser a cereja brilhante no topo do bolo para ser apenas uma essência aromática perdida entre tantos sabores. Porém, é preciso ressaltar, nunca perdeu sua importância política e imaginária, observamos isso em todas as mudanças de nome que teve.
Foi criada como São Peterburgo, e por ser um nome muito alemão, depois da Revolução, passou a ter um nome mais russo, Petrogrado. Com a morte de Lênin, Leningrado, e com o fim da URSS, voltou a ser São Peterburgo, apesar de muitos preferirem o nome anterior. Tanto é assim que o estado (Oblast em russo) continua sendo Leningrado e a referência aérea também. Quem vem para cá de avião, por exemplo de Amsterdã, verá na passagem AMS-LED e não St. Peterburgo.
Nas imagens acima mostro um pouco do descuido, ou mesmo abandono, de edifícios antigos que tanto vejo. Ok, isso não é novidade em lugar nenhum, no entanto, edifícios assim são praticamente 70% da visão por aqui. O edifício amarelo é a fachada da Biblioteca Nacional Russa. 

Com a II Guerra, Leningrado sofreu muito e as marcas ainda estão, para quem observar com calma. Sofreu com o cerco nazista e depois, com o país destruído pela guerra, quando o governo a deixou de lado e investiu o dinheiro na recuperação da capital, que é decididamente opulente, e de outras cidades como a antiga Stalingrado. Leningrado só voltou a receber a atenção do governo na década de 1960 e nos anos 2000 quando muitos prédios foram restaurados ou reconstruídos em sua arquitetura original. Basta caminhar com um olhar mais atento que percebemos esse descaso. Há, inclusive, determinadas ruas e edifícios parados numa época que nos faz sentir as dificuldades que essa gente teve durante a II Guerra e no pós guerra.

Fica difícil dizer que ela é linda quando está repleta de cicatrizes tão visíveis. Para mim ela é  charmosa, bonita e com àquela decadência característica de lugares que hoje estão aquém da grandeza que usufruíram.

Um pouquinho de geografia: enquanto estiver na cidade com a longa principal avenida, a Nevski, está na cidade de St. Peterburgo (Distrito de Admiralteysky), que é rodeada pelo rio Neva. Quando atravessar o Neva por qualquer uma das inúmeras pontes, do outro lado estão as ilhas/distritos que têm outros nomes como Petrogradski, Kalinski e Vasileostrovsky. Tudo isso é Leningrado.




Por ser toda plana, recomendo conhecê-la caminhando ou usar o metrô. Para os parques e bosques, há estações praticamente no portão destes. Os ônibus passam com bastante frequência e podem ser pagos com cartão ou em espécie.

Por toda a cidade vemos bustos, estátuas e referências a Lênin e à Revolução. Por vezes em lugares inimagináveis. E vemos também a beleza e a opulência dos czares em vários lugares com seus inúmeros palácios, jardins, edifícios com fachadas belíssimas e parques espetaculares com suas muitas fontes e esculturas.

Os bosques são ótimos lugares para conectar-se com a natureza.

Numa tarde caminhando por um parque pude assistir ao ensaio da ópera rusa Rusalka ao ar livre. Veja o vídeo deste momento surpresa: https://www.youtube.com/watch?v=IcXjA1ZgitM


Há muitos bosques e parques nas ilhas ao redor e a maioria deles tem uma estação de metrô praticamente na frente. Por exemplo, passei uma tarde num bosque cheio de esquilos. Foi tão fofo! Nunca os tinha visto ao natural e de pertinho. Um, inclusive chegou a subir pela minha perna! Fiquei encantada! Vejam o vídeo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=esM7rR7u6Vs

No verão, que começa 1 de junho, é o momento para fazer piqueniques nas praças, bosques e jardins. E geralmente nas últimas duas semanas de junho começa o fenômeno natural das Noites Brancas. Em qualquer livro onde as personagens sejam russas desta cidade elas falarão sobre estas noites como os melhores momentos de suas vidas. Li muitas histórias que se passaram durante estas elas e tinha uma curiosidade enorme, porém, confesso: nada do que li me preparou para o que senti e vivi naquelas duas mágicas semanas de junho. Veja um pouquinho neste vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=moE9puunosU

As Noites Brancas acontecem em todos os países próximos ao Círculo Polar. Neste período o sol não se põe completamente e por isso não fica escuro. Aqui o pôr do sol era às 22h40 e o sol ficava ali no fundo pairando com seu brilho até às 0h. Entre 0h e 1h30 o céu ficava como geralmente fica quando está para amanhecer o dia (quem já saiu de casa por volta das 5h da manhã sabe do que estou falando) e daí voltava a ficar mais claro porque o sol nascia às 3h30. Mesmo se houvesse uma noite escura ela seria bem curtinha. Veja aqui, na Praça do Palácio, essa horinha mais escura: https://www.youtube.com/watch?v=Y4NzSLooScE


Flat às 3h.
Agora... o relógio biológico fica descontrolado! Nas primeiras noites foi difícilimo dormir com tanta claridade e depois foi difícil dormir porque eu saía por volta das 17h e só voltava às 4h da manhã. Muitas noites só conseguia dormir por volta das 6h. Estava dormindo de dia e aproveitando a noite. (E às vezes mal dormia). 

E mesmo nas noites em que não saía, afinal estamos em uma pandemia e recém tínhamos saído do confinamento, ficava sentada na janela aproveitando para ver encantada a noite que nunca vinha, com aquela claridade soturna e embaçada se transformando em luminosa por volta das 2h30 da madrugada. Podem ver mais neste vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=x_iA6K9Xcgw

Talvez eu tenha sentido tudo isso porque atravessei o inverno e a primavera aqui e com isso pude acompanhar essa mudança de dias escuros e frios para dias e noites extremamente luminosos. Mas de qualquer forma, tenho certeza que irão apreciá-las também se permitirem. 

Se tiverem a oportunidade de passar o período das Noites Brancas aqui, meu conselho é: tentem não se entupir de atividades: excursões, passeios de barco noturno, restaurante, bares, etc…, deixem noites livres para curtir e senti-las. Deixem seus pensamentos vagarem e curtam a sensação de estar vivendo algo único como podem ver neste vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=T5grn2tyXjU

Uma vez li algo como “As mágicas Noites Brancas são o que nos faz suportar os difíceis e escuros dias do outono e do inverno” e “Passo o ano inteiro suportando o frio russo esperando pelas Noites Brancas. Sem elas seria impossível suportar”. Hoje, entendo completamente esse sentimento.

Foram duas semanas onde tempo parecia estar suspenso no ar. Foram dias e “noites” de pura magia. A cidade, as pessoas, o clima, o ambiente, tudo era diferente. Era como estar vivendo sob um véu onde tudo era feliz e perfeito. Via-se todas as pessoas rindo, de bebês a anciões. Não sei se o tempo de confinamento nos fez sentir um gosto diferente de liberdade. Não sei se o fato de a cidade estar vazia sem a quantidade absurda de turistas ajudou, mas o que sim sei é que nunca vi, por duas semanas inteiras, tanta gente genuinamente feliz junta. Podem ter mais um gostinho neste vídeo perto da Ponte Trotskyhttps://www.youtube.com/watch?v=1SQgIPvv-VA

30 minutos depois do pôr do sol.
O pôr do sol era cada um mais lindo que o outro. Vejam um dos belíssimos pôr do sol com direito à música pop russa: https://www.youtube.com/watch?v=s-x8vKYGT8E

Ficar sentada às margens do rio Neva vendo grupos de amigos ou casais russos com suas garrafas de champagne , outros com caixas de som na calçada ou caminhando sem rumo pela cidade com tantas pessoas fazendo o mesmo em noites que nunca escureciam foi um momento único. Sentar-se num banco de uma praça qualquer e ficar lendo às 2h da manhã enquanto ouvia grupos de amigos ou famílias inteiras com crianças cantando, outros tocando violão, outros jogando, outros apenas conversando, outros tomando champagne, todos envolvidos pelos ares noturnos fresquinhos enquanto esperávamos, cada um a sua maneira, o nascer do sol para uma noite que nunca acontecia…foi mágico.

O verão é beeeem particular, não faz calor, há dias mais quentes. Os parques, praças, bosques ficam cheios e muitos deles têm rios. É possível nadar, mas a água é fria. Em geral, vejo os russos mergulhando e saindo logo da  água. De 01 de junho até hoje, 17 de agosto, só houve dois dias que reamente pude falar: "Vai dar praia" e deu! E para uma brasileira foram dois dias muito felizes!

Há uma praia em St. Peterburgo que fica no Golfo da Finlândia. Lá é lindo! E há muito o que ver. Primeiro, ao sair da estação do metrô Begovaya já é possível ver o maior aranha-céu da Europa, o Lahta Center. Há o Parque 300, enorme e verde e por último o Golfo da Finlândia. Vou deixar o vídeo do dia em que deu praia: https://www.youtube.com/watch?v=MPFqqCaXWR0


Viu quanta coisa há para conhecer e fazer em Peter?! Quando toda essa situação com o coronavírus passar vale a pena  ou não colocar a Rússia em seu roteiro?!?

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