Vamos falar de (falta) sexo e (excesso) de hipocrisia: “50 Tons de Cinza”. Parte 2.



Muitas mulheres que leram o livro, e já li inúmeros artigos através dos anos, também acham absurdo ou bastante fantasioso a ideia de uma mulher virgem conseguir atingir o orgasmo nas primeiras vezes.  
Ooooookkk! Primeiro: tanto o orgasmo como o sexo está muito super valorizado ao meu ver. Muitas pessoas nem percebem o prazer do encontro porque estão obcecadas querendo ter orgasmos e no final não têm nem um nem outro e o número de mulheres-e por conseqüência seus parceiros- que se dizem sexualmente insatisfeitas é enorme. 


Esse foi um ponto que sempre defendi no livro: uma mulher pode sim ter prazer, pode sim chegar ao orgasmo com seu primeiro parceiro se ele for experiente e se ela tem o corpo/mente preparado para isso. A personagem não é uma adolescente biologicamente em formação. O corpo dela aos 21 anos está completamente preparado para isso. E a biologia meus caros, é forte. A natureza tem seu curso natural. E porque ela não sentiria tanto prazer se desde o início do livro é claro que todo o tempo eles estão falando de tesão? Não estão falando de amor, não vemos um sentimento romântico surgindo nas primeiras páginas, mas sim o de tesão puro e simples recheado de preliminares. O que penso é: será que a mulher não pode sentir tesão e querer ter sexo com alguém simplesmente por isso?  Por que ao invés de ver o livro como “homem tentando controlar mulher” não podemos vê-lo também como “homem e mulher debatendo se podem ser usados um pelo outro apenas para o prazer?” (a Anastasia enrola o sr. Grey todo o livro por causa desta questão e no final não tem contrato assinado e ela se diverte um bocado enquanto fica tirando suas dúvidas). 

O livro fala de fetiches. Tema ainda tratado a sete chaves. As formas de encontrar o prazer são infinitas e desde muito valorizadas, vide o “Kamasutra”, “O Jardim das Delícias”, “Decamerão”, os diários de prostitutas que já escreviam e davam dicas na Antiguidade como o de Fanny Hill (deu pra ver que sou letrada no assunto né?!, jajaja). O consenso desta literatura sempre foi de que para atingir o prazer vale tudo e que entre quatro paredes- e desejo- dos parceiros tudo é permitido. Há quem goste suave, há quem goste forte, há quem goste com dor, há quem goste sujo, há quem goste de ser humilhado, há quem goste de humilhar, há quem goste de divertido, há quem goste com uma dose de sofrimento, há quem goste com comida, enfim, o gosto humano e a criatividade são infinitos. Então seria melhor atingir e desfrutar do prazer do momento do que ficar caçando orgasmos todo o tempo, porque a verdade é que a maioria das mulheres não consegue ter nem orgasmo nem prazer enquanto estão nesta busca alucinada. Ou às vezes, o orgasmo - aquele prazer tão delicioso - acontece e elas nem se dão conta porque estão esperando as paredes tremerem, o ar parar e ouvir sinos pela cidade. Muitas mulheres acharam um pouco falso que a personagem pudesse chegar ao orgasmo com facilidade, da mesma forma que tenho amigos homens que acreditam que uma mulher não consegue ter mais de um orgasmo por transa. (Para lhes informar essas eram dúvidas do pessoal lá dos séc. XVIII e XIX e eles já conseguiram responder, ok?). 

Por isso o tal contrato do livro gerou controvérsias e a hipocrisia não permite que estes temas venham à superfície. A maioria das pessoas vive algo que realmente não vive. Prova disso é que várias pessoas, homens e mulheres, ainda têm vergonha de comprar um pacote de preservativo! Compram junto com outras coisas para passar despercebido quando vão ao caixa pagar. O que vejo dentro de toda essa hipocrisia é que enquanto muitos falam sobre suas relações sexuais e sua busca pelo orgasmo, os lençóis estão cada vez MENOS molhados de bom sexo. (Mas parece que isso é um pouco inadmissível nos dias atuais...pelo visto todos fazemos e temos bom sexo todo o tempo). 


Se quiser ler o livro leia. Se leu e tem sua própria opinião, legal para você. Quer ver o filme? Vá. Não quer? Então não vá. Mas lembre-se: quem ama também pode fazer apenas sexo. Quem faz sexo também pode amar. E o mais libertador de tudo nessa história para mim, sabe o que é? É poder dizer que milhares de nós mulheres iremos ao cinema ver este filme e ninguém nos chamará de putas, atrevidas e indecentes por isso (pelo menos não a maioria, acho eu). É bom saber que mesmo tendo muita coisa importante sendo jogada embaixo do tapete, algumas coisas realmente evoluíram!!

E não é que você leu até o final? Obrigada pela paciência e se quiser deixe um comentário. Vou adorar! ;)

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