Comer, beber e provar.

Viajar é muito bom. Bom demais. Quem viaja sabe. E quem não está viajando, com certeza está sonhando com o próximo destino. É assim. Um vício. Viciante. Viciador.
Que viajar é conhecer outra cultura todo mundo fala. Que para viajar é bom ir com a mente aberta para provar de tudo é consenso também. Mas mesmo assim muita gente ainda não aprendeu a respeitar e a experimentar a comida de outros povos. O que é uma pena porque comer é tão bommmmmm.
As civilizações antigas já sabiam da importância da comida como um denominador das culturas. Muitos soldados sabiam que para conhecer melhor os povos conquistados ou ganhar sua confiança tinham que comer o que eles comiam e beber de sua bebida preferida. Isso indica respeito.
Eu adoro comer e quando comecei a viajar descobri que conheço muito mais das pessoas, da cultura e de suas vidas pela comida, pela gastronomia. Que ela faz com que cada povo tenha uma estrutura genética única, que as principais refeições do dia podem conter alimentos completamente diferentes do que estamos acostumados. Sabia que para os turcos comer azeitonas no café da manhã é importante?
Por muitas vezes até é estranho, mas se seguirmos o ritmo do lugar, com seu clima, sua forma de vida e de pensar, vamos perceber que aquela alimentação é perfeita para o lugar.
Adoro perceber como as pessoas de outros lugares comem. Já vi pessoas comendo pão tirando de pedacinho em pedacinho. Outras que só comem pão a bocanhadas. Outras que comem apenas na mesa. Outras que seguram com a mão. Outras que precisam que esteja envolvido num papel, plástico ou guardanapo. Sabia que há culturas onde as pessoas comem pães apenas com doces? Lugares onde as pessoas comem pão apenas no café-da-manhã e no almoço? Noutros o pão acompanha as principais refeições, mas dificilmente são comidos como lanches? Noutros, só comem fatias de pães e nunca inteiros? Noutros só comem pães inteiros, pequenos e redondos?Noutros apenas se come pães do dia, não existem estes de fôrma, industrializados? E isso porque estou apenas falando de pão!
Gosto de observar as pessoas quando estou caminhando e se vejo várias comendo ou bebendo a mesma coisa, caso eu ainda não tiver provado, começo a prestar atenção em como elas comem ou bebem aquilo e na primeira oportunidade eu compro para provar. Muitas vezes nem pergunto o que tem. Simplesmente compro e provo e daí descubro o que tem e depois procuro perguntar a alguém como é feito.
Eu não sou muito fã de peixes e frutos do mar em geral, mas a última vez que comi muito peixe foi justamente em numa viagem. Quando estive na Colômbia, na parte caribenha, Cartagena e Santa Marta come-se muito peixe frito. E por isso decidi provar esse peixe frito que eles tanto comem antes de pedir diretamente carne ou frango e a surpresa foi que era um dos peixes que gosto de comer e eles fritam de tal forma que vem bem sequinho e combina à perfeição com o arroz de coco e os patacones (bananas da terra fritas e amassadas) e feijão vermelho, acompanhado de água de panela (a nossa rapadura) e que me deixava bem para suportar o calor caribenho. Provei outros alimentos, mas foi sem dúvida o prato que mais comi depois das arepas de queijo.
Também gosto de provar vinhos locais. Sendo bons ou não, eles combinam com o país e com o clima. É incrível perceber isso. Bebi um vinho tinto tcheco muito forte na cidade de Cesky Krumlov (Rep. Tcheca). Realmente forte, mas nos faz perceber que ele combina com os tchecos, com seu inverno muito forte, com as pessoas mais firmes por viverem num lugar com esse clima e quando saí deste restaurante, estava muito frio, mas eu estava aquecida pela bebida e pela comida. Bebi esse vinho com um gulash de carne com um pão - lá vem o pão de novo - que tinha uma textura que eu nunca tinha visto ou comido na minha vida, mas que aqueceu cada pedacinho da minha alma. 
Se tiver a oportunidade de provar um vinho rosé francês no sul da França vai perceber que tudo combina: o vinho, o clima, o ambiente, os queijos, as pessoas, o idioma. É claro que podemos beber este vinho em qualquer lugar do mundo, mas ele combina com aquele local, com aquelas pessoas.
Já comi e bebi coisas estranhas também. Por exemplo, quando estive em Viena, comprei num supermercado um iogurte de rabanete. E também comprei água saborizada de framboesa e vegetal que não me lembro o nome. Do iogurte não gostei muito, até porque vinha uns pedacinhos também. Não  é ruim, mas não compraria novamente. Já a água, viciei de tão deliciosa que era. Aliás a água da Europa é um prazer à parte. 
E só posso dizer isso porque provei. Temos que provar. Sem provar deixamos de conhecer texturas, sabores, acidez, grau de dulçor, grãos, farinhas, etc. Se é uma cultura que come muitos vegetais, podemos entender seu físico e seus costumes se percebermos como aquela alimentação nos afeta. Vai descobrir que o Cassoulet é um prato de feijão branco e carnes brancas porque no sul da França não há pecuária, mas sim diversos animais de pequeno porte como coelhos e porcos e por isso a carne deles e não da vaca está inserida naquela culinária. 
Pare numa banquinha de rua e compre algo. Ou passe alguns minutos num mercado qualquer. Adoro ficar horas olhando os produtos e decidindo o que irei provar. Outro dia escutei uma frase de Anthony Bourdain que dizia mais ou menos assim: "se você ficar pensando como aquela comida é feita, no grau de higiene e tudo isso, você não vai comer nada. Quando viajar não pergunte muito e prove o que puder daquela cultura". Eu concordo totalmente com ele. Comer, beber e provar. (E se puder amar será ainda melhor). :)
Em Veneza com pizza e bellini.

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