Vamos falar de (falta) sexo e (excesso) de hipocrisia: “50 Tons de Cinza”. Parte 1.
Esse post ficou grande e optei por dividi-lo em
dois, porque sinceramente li, li e reli e não acho que eu deva retirar nem uma
vírgula do meu desabafo/opinião.
Tenho lido alguns comentários em artigos (afinal
os comentários existem para o pessoal falar o que quer e para que pessoas como
eu possa ler e observar os pensamentos da massa – adoro fazer isso) sobre a estréia do filme “50 Tons de Cinza” e é interessante
perceber o grande número de mulheres que diz não ter lido o livro porque ouviu
que era ruim e por esse motivo não verão o filme porque também será ruim. E
outras ainda afirmam que um filme desse cheio de cenas de sexo não vale a pena.
Primeiro: se você não leu e não viu como pode dizer que é ruim só porque está
ouvindo que será? Segundo: pessoas adultas já não deveriam ter passado da fase “Maria-vai-com-as-outras”
?
Vi uma imagem com texto no Facebook que dizia
que o livro é ruim e mostra uma relação sexual abusiva, obsessiva e machista.
Isso não é novidade, afinal desde que o livro virou um fenômeno muitos
escreveram isso. Mas nesta semana teremos a versão cinematográfica e em alguns
lugares o debate voltou e com ele as críticas. Ai gente, tanta hipocrisia é
cansativa!
O que me cansa nesse tom crítico é que muitos,
principalmente mulheres, agem como se vivessem num mundo à parte. O livro é sim
mal escrito. É consenso! Quem está acostumado a ler, principalmente a
literatura britânica, percebe isso no final da primeira página. Então vou pular
esta parte. Desde que a internet surgiu em nossas vidas as pessoas
passaram a controlar mais as outras, mesmo quando não se dão conta disso.
Internet-E-mail-Messenger-ICQ-Orkut-Facebook-Chat-Whatsap apenas para citar um
pouco dessa evolução que entrou na nossa vida e o que vejo é todos pendentes de
todos. “Oi, tudo bem? O que está fazendo
agora?”, “Está on?”, “Está no
trabalho?”, “Está almoçando?”, “Já comeu?”, “Está aí?”, “Por que não me
responde?”, “Ele/a viu minha mensagem, mas não responde.”, “Já está dormindo?”,
“Estou na praia bebendo uma cervejinha e você?”, “Acabei de chegar em casa,
onde você está?”, “Chego em meia hora e você?”, “Estou no cinema com minha
amiga e você?”, “Estou vendo que está no centro, o que está fazendo aí?”,
“Ele/a me disse que ia dormir, mas vi que postou algo depois.”, “Não queria
mais falar comigo?”, “Por que disse que já estava saindo, mas continuou na net
por mais 1h?”, “Que droga. Já enviei umas 5 mensagens, está lá como lidas, mas
não me responde!”, “O que ele/a está fazendo que não me dá um ‘oi’? Estou vendo
que está on”. “Eu vi na foto que o/a fulano/a também estava lá.” e por aí
vai...
Se você disser que nunca fez, passou ou viu
alguma das situações acima está mentindo. Acontece que faz tão parte do nosso dia
a dia que muitas pessoas nem percebem como estão obcecadas e possessivas em
relação às outras. Quantas pessoas conheço atualmente que terminaram o
relacionamento por causa de posts ou “horas não explicadas” pelo Facebook? Algo
do tipo: “O que os olhos não veem, coração não sente”. (Os ditados sempre têm
seu fundo de razão mesmo na era da Internet.) É um comportamento cada vez mais
comum – com o whatsap piorou drasticamente. A personagem Anastasia ficava
surpresa e classificou o milionário como louco por controle porque sempre sabia
tudo sobre ela por causa do uso que ele fazia da internet. Quando o livro foi
escrito a maioria da população ainda não tinha o acesso ou recursos irrestrito
à internet como temos hoje – ou não sabia usar essa informação. Ao reler o
livro achei interessante perceber que hoje os pensamentos da Anastasia são
muito bobos em relação a isso, porque agora a grande parte atua como o Sr. Grey
e acha super natural. (Muitos têm até aplicativos de localização e sabem onde a
outra pessoa está). Não, não deveria ser normal!
Quanto a ideia de machismo (onde está este
controle que citei acima) cada um tem a sua própria concepção e cada cultura vê
o machismo de uma determinada maneira, então, não entrarei nesta questão,
afinal alguns comportamentos que podem ser machistas para um pode não ser para
outro.
Vamos à grande hipocrisia de tudo. A maior
polêmica do livro não é uma relação abusiva, não é prática do BDSM ou do
sadomaquismo que existem há muito tempo (e que é tratado de forma bastante
light no livro conforme dizem os praticantes), mas sim o fato de existir um
contrato. Touché! Se a escritora mantivesse toda a história e não existisse
esse contrato, seria apenas mais um livro soft erótico na prateleira – e ainda
por cima mal escrito. Mas existe o tal contrato. Será realmente que uma mulher
moderna, independente, inteligente, recém formada assinaria um contrato assim?
Acontece que muitas mulheres que leram o livro disseram que sim! E nem todas
eram ingênuas como Anastasia – e em pleno século XXI. E foi aí que muitos saíram
para explicar, defender ou marginalizar o livro. O tal contrato mostra um homem
literalmente querendo subjugar uma mulher – e quantos homens e mulheres lá no
fundo, às vezes não tão fundo assim, não querem subjugar seus parceiros? A
monogamia está aí para mostrar que é pecado olhar para os lados. O casamento é
um contrato para dois apenas. (E claro, o contrato da Igreja deixa claro que
sexo é apenas para reprodução). Já o contrato do Sr.Grey existe para o prazer.
Vamos esquecer essa parte de ter um amo ou submissa, que para mim, sendo muito
honesta, sempre achei que estivesse implícito (explícito?!) dentro da ideia de
matrimônio tão fomentado pelas religiões, sem a parte do prazer, claro. As
feministas saíram dizendo ser um absurdo um homem se proclamar responsável
pelos orgamos/prazer de uma mulher quando as mulheres podem consegui-lo
sozinhas. Oooookkk! O que vejo é que a maioria das minhas amigas, independente
da nacionalidade (e para constar, eu não tenho apenas três amigas ou
conhecidas), nunca ficaram na frente do espelho com as pernas abertas para
conhecerem bem o próprio corpo. Até o ato de se tocar é feito de forma obscura.
Vejo jovens, adolescentes sexualmente ativas que nem sabem exatamente onde está
o clitóris. Não digo com isso que os homens saibam o que fazer com ele, mas
pelo menos através das revistas e filmes pornôs eles sabem o que é e onde está.
(E muitas mulheres sabem como é por causa destes mesmos recursos visto às
escondidas e não por terem explorado a própria virilha num primeiro momento).
Fim do primeiro post. Continua...leia aqui a segunda parte.
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