PLANOS...


O mundo está de cabeça para baixo. Pela primeira vez na história pós Grandes Guerras todas as pessoas que vivem neste planeta tiveram que suspender seus planos. Grande ou pequeno, não importa. Então, não vou entrar no assunto do momento. É preciso espairecer um pouco de tanta informação triste e preocupante e é isso que farei aqui. Contarei um pouco sobre como é estar na Rússia.
Estou na Rússia desde o início de fevereiro. Onde os planos eram vários, o vírus era algo que estava acontecendo longe e tudo corria conforme o programado.
Os planos eram passar alguns meses pelo Leste Europeu, e comecei pela Rússia. No início dos planos a Rússia não estava, depois entrou por 2 semanas, daí, bem de última hora, fui aceita a um trabalho voluntário num dos maiores museus do nosso mundo: o Hermitage. Com isso as duas semanas iniciais seriam quase dois meses neste país e agora, com a situação mundial, talvez seja um pouco mais. Se for o caso tenho mais um motivo para estar feliz por ter estudado russo antes de vir.
Quando estava para voar à Rússia bateu o medo de não me deixarem entrar, já que a imigração russa é conhecida por ser truculenta. Primeiro é preciso sim chegar com uma passagem de volta. Não existe voo direto da América a Moscow, terá que fazer uma parada em algum país. Eu fiz na Espanha e na Holanda. Quando estava no aeroporto de Madri para pegar o voo para Moscow que faria uma escala na Holanda, já me perguntaram se eu tinha uma passagem de volta ou para sair da Rússia, pois sem isso a imigração de lá não me deixaria entrar. Quando fiz o check in na Holanda fizeram a mesma pergunta e pediram para ver a passagem que eu tinha para a Estônia.
Chegou a hora. Cheguei em Moscow de madrugada e da janela vi rios inteiros congelados, bosques cobertos de gelo e bateu uma emoção e o medo de não me deixarem entrar. Porém, foi tudo muito tranquilo na imigração. A única pergunta que o oficial me fez foi se eu estava viajando a turismo e olhou para minha cara e para a foto do meu passaporte muuuuitas vezes e no final me entregou o passaporte com o papelzinho de permissão. Fiquei super feliz. Ao passar a mochila no raio-x, uma policial pediu meu passaporte e perguntou o que eu estava fazendo aqui? Não entendi mas, felizmente, o rapaz que estava na minha frente fez a tradução e eu disse: “Turismo”. Ela me olhou sério, depois ao passaporte de novo, só então me entregou e disse: “Boa viagem na Rússia”. Só então respirei aliviada.
PASSAPORTE: todos sabem que é um documento importante quando viajamos e geralmente, nem bem nos hospedamos e já o guardamos. Aqui não. É necessário estar sempre com o passaporte. SEMPRE! Não é apenas porque um policial pode te pedir a qualquer momento. Em muitos lugares, principalmente em Moscow, pediram-me para mostrá-lo ao comprar algum ticket ao visitar alguns museus ou outra atração. Ao entrar nas estações de metrô com bagagem, mochilas de viagem e qualquer bolsa um pouco maior o policial pede para passá-los pela máquina de raio-x e o passaporte. Os russos também sempre andam com seus documentos, porque eles também precisam mostrá-lo. Em Moscow, sempre que fui pagar algo com cartão pediram para mostrar meu passaporte. E eles olham primeiro a data do papel da imigração, depois a foto do documento e para você. Estão muito bem treinados. Ou seja, se quiser ter uma vida tranquila ao viajar pela Rússia, esteja sempre com o passaporte, pois ele e o papel da imigração serão sua segurança.
HOSPEDAGEM 1: Em todos lugares em que se hospedar, hostel ou hotel, eles pedem e tiram uma cópia do seu passaporte e do papel da imigração e ao fazer o check out esses lugares devem te dar um papel com o registro da sua estadia e este deverá ser bem guardado para o caso de quererem saber onde você esteve. E no caso de ficar na casa de algum amigo ou parente, na mesma cidade por mais de 7 dias, este precisa ir até o escritório da imigração e informar que está com alguém do estrangeiro em casa e até quando este ficará. Somente os residentes russos podem fazer esse trâmite burocrático. Por isso é um pouco complicado fazer Couchsurfing por muito tempo aqui.
HOSPEDAGEM 2: todos os estrangeiros, independente do visto de turista de 90 dias, não podem ficar mais de 7 dias em uma mesma cidade sem estar registrado. Por exemplo, ao chegar em St. Petersburgo eu fiz Couchsurfing por alguns dias e no sétimo dia fui para um hostel. Todas as hospedagens na Rússia têm a obrigação de informar e registrar os hóspedes estrangeiros. Se fizer uma reserva de 10 dias ou mais não terá nenhum problema ao viajar para outra cidade depois caso te perguntem onde esteve. Caso não te deem o registro ao fazer check out e for pedido em algum lugar, entre em contato onde ficou hospedado e eles enviarão ao seu e-mail e poderá apresentá-lo sem maiores problemas. Mas lembre-se: essa preocupação é somente para quem vai ficar viajando pela Rússia por mais tempo e se for ficar mais de sete dias numa mesma cidade.
BEBIDAS ALCOÓLICAS: ao comprar qualquer bebida alcoólica, não importa se será uma lata de cerveja ou 10, todas as pessoas em território russo precisam apresentar seu documento para poder comprar. Fiquei surpresa quando me pediram o passaporte em um mercado no qual já estava frenquentando há alguns dias e quando comentei com um amigo russo em St. Petersburgo ele me disse que era estranho e então me perguntou se eu tinha comprado bebida alcoólica. E foi o meu caso porque fui convidada à casa de um amigo russo e comprei uma garrafa de vinho. Imaginem a minha surpresa! 
SEGURANÇA: em Moscow, nas entradas de todos os lugares há identificador de metais e um ou mais policiais que verificam bolsas e mochilas. Nas galerias, nos mercados, nos cinemas, nas estações de metrô, nas lojas, nos museus, nos restaurantes, etc., sempre ao passar pela porta passará em seguida pelo detector de metais. É a medida de Moscow contra o terrorismo no país.
Foi muito estranho, mas como tudo na vida, a gente se acostuma.
Friso que isso, o tempo inteiro com o passaporte, foi em Moscow. Em St. Petersburgo as coisas no quesito segurança são beeeem mais leves que em Moscow. Aqui, em 1 mês, só precisei mostrá-lo duas vezes. De qualquer jeito estou sempre com ele, não importa se vou até a esquina. Ainda mais agora.

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