O SER E ESTAR IMIGRANTE.

Aqui está frio. Tivemos 3 dias de calor na semana passada, mas a mãe natureza da Argentina depois de uma chuva quis deixar claro que é outono e cá estamos nós com vários graus menos, mãos frias, muita roupa de frio e meias.


Ontem, sábado, decidi ir conhecer um restaurante brasileiro aqui em BAires. Sim, eles existem, muitos brasileiros formam uma comunidade, mas eu não me incluo nela. Podem me chamar de metida ou arrogante, que o seja, mas acredito que se eu quisesse estar todo o tempo com brasileiros ouvindo e falando o português eu estaria no Brasil. Assim que...durante a semana decidi ir conhecer este restaurante com o sugestivo nome de "Me leva Brasil", e depois de ver o menu online senti a necessidade cada vez mais crescente de comer coxinha de frango. rsrsrs


Terminada minha aula, trabalho como professora de português, peguei o subte (metrô), caminhei algumas quadras e no coração de Palermo lá estava ele, na esquina de Malabia com Costa Rica. Me sentei numa das mesinhas do lado de fora, afinal o vento estava frio, mas havia sol e pedi as minhas tão desejadas coxinhas com um suco de manga. O serviço demorou bastante, mas quando tomei o primeiro gole me senti no céu e quando chegou a porção com 3 coxinhas quase apertei as mãos dos anjos, pois sentir esse gostinho de Brasil foi muuuuuito bom. Ao meu lado, estavam 3 senhoras com suas caipirinhas e um menino que começou a comer um prato super lindo de arroz com feijão preto e ovos fritos. Quase babei!!!


Não sou muito de sentir falta da comida brasileira, afinal decidi vir viver aqui e adoro a comida e a dieta argentina. Carnes maravilhosas, massas frescas divinas e muito mais. Mas ontem, ao ver aquele prato e depois de comer as coxinhas eu sabia que teria que matar a saudade da nossa comidinha e hoje no meu almoço cozinhei um pouco de arroz, que é algo que quase não como mais, abri a minha latinha de feijoada que estava guardada para um momento de "emergência e saudade da nossa comida" e me senti muito, mas muito feliz. Até pensei em acompanhar com um vinho, mas daí pensei melhor e disse a mim mesma: "Vinho agora você não vai porque é o meu momento Brasil e definitivamente vinho e feijão não combinam".rsrsrs


Outro fator interessante ontem neste restaurante é que fiquei pensando em como conhecemos pessoas que em nosso país não conheceríamos. E isso acontece apenas pelo fato determinante de sermos imigrantes. E daí vem o título deste post, porque há pessoas que são imigrantes porque saem do país procurando uma condição de vida melhor ou veem até aqui para estudar porque as faculdades privadas são mais baratas e nas públicas fará um curso de ingresso e não precisam fazer vestibular. E outros, e é aí que me encaixo, estão imigrantes. É uma posição que conquistamos por conta própria. Neste caso somos realmente poucos em qualquer parte do mundo. Afinal poucos são os que deixam a família, casa, bons empregos e até cursos porque simplesmente querem viver uma experiência em outro país sem estarem presos pelas necessidades de trabalho, de estudar ou estar ligado a algum romance. A única necessidade aqui é uma urgência em viver. Então escolhemos um lugar que gostaríamos de conhecer mais profundamente, tiramos a mala do armário e lá vamos nós.


Mas, seja qual seja o motivo do imigrante quando este encontra outro de seu país, quando escuta o idioma, tão natural como caminhar é se aproximar e perguntar "De que lugar você é?", "Há quanto tempo está aqui?", "Está gostando?" e desta conversa e das experiências trocadas, positivas ou negativas, paramos depois para pensarmos em nós mesmos. Em como estamos, em como vivemos e em nossa decisão de ter saído do nosso país.


Fiquei pensando nisto tudo enquanto pagava a conta e me dirigia ao mercado para comprar uma latinha de leite condensado e chocolate para fazer um brigadeiro, afinal estava saudosa. Pena que o resultado não foi muito bom.rsrsrs Para quem não sabe aqui tem leite condensado, mas a fórmula é diferente e agora tem uma "nova fórmula", quando li essa nova informação pensei que finalmente seria como o "nosso" l.condensado. Pura ilusão! Açucarou, ficou tão duro que se podia bater um prego. Definitivamente desisto de fazer brigadeiro por aqui e ao comer aquele que deveria ter sido um bom brigadeiro lá se foi o momento saudoso.


Mas sem me dar por vencida fui no mercado perto de casa e comprei um abacate maduro (aqui se chama palta). E fui ao recôndito de minhas lembranças de infância e coloquei açúcar e o amassei com garfo. Não sei se todos fizeram isso, mas quando era criança no Rio comia-se muito abacate, quando não era vitamina era assim amassado com açúcar. Uma delícia!!

Saludos brasiporteños.

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