RÚSSIA EM NOVEMBRO DE 2020: SITUAÇÃO, CORONAVÍRUS E VACINA.

 Ooooiiii,

Vamos falar sobre a situação atual da pandemia na Rússia e tentarei aqui tirar algumas dúvidas dado o número de perguntas que tenho recebido sobre a vacina Sputnik V 💉.

Leia aqui a versão em espanhol.

Primeiro, peço COERÊNCIA! Nas redes, circulam muitas notícias a cada hora o que contabilizam milhares no final do dia. Há de  tudo, desde informações sérias, com dados a opiniões (e achômetros) pessoais que muita gente toma para si como verdade absoluta. É importantíssimo ler tudo o que nos chega com calma, prestar atenção nas datas e saber quem ou qual organismo escreveu, se estiver percebendo alguma contradição procure por mais informação. "Ahhh, mais tem um montão de notícias contraditórias!", então leia várias e tire suas próprias conclusões. (Massss não é porque VOCÊ NÃO GOSTA de uma informação que necessariamente ela é contraditória, não é mesmo?).

Segundo, peço PACIÊNCIA! Estamos vivenciando uma situação pela qual nunca imaginamos passar e não adianta fingir que nada está acontecendo ou que está sendo maximizada por interesses obscuros: epidemias e pandemias já aconteceram antes e a população naquele momento, como nós agora, estava completamente perdida querendo que tudo não passasse de um sonho ruim e que suas vidas voltassem à normalidade o mais  rápido possível. Nós não somos diferentes nem melhores e a pandemia não desaparecerá num passe de mágica. Ao ler sobre situações pandêmicas anteriores veremos que nenhuma foi resolvida no mesmo ano em que surgiram. Então, calma com o andor!

Terceiro, peço que aceitem a CIÊNCIA como ela é: com erros e acertos, com estudos, medidas, testes, provas e avaliações. Um remédio seja com função paliativa ou de cura não surge en alguns poucos meses. Sabe àquele remédio para dor  de cabeça que acaba com o seu sofrimento em alguns minutos ou a vacina contra a poliomelite ou sarampo? Não foram criadas em 3, 4 meses. É preciso - num mundo onde a tecnologia e o consumismo desenfreado nos faz querer fazer e ter tudo ao mesmo tempo, e rápido -, tomar consciência de que a ciência tem o seu tempo e ele não é medido apenas pela vontade e necessidade de cada um. É preciso respeitá-la porque o remédio virá de um laboratório e não da banca da esquina.

Tendo isto em mente, vamos falar da Rússia. O país está muito falado ultimamente, seja pela vacina seja pelas  teorias de espionagem 👀. Vamos ao que interessa.

Fonte: The Moscow Times.16.11.20
O país está, como praticamente todo o hemisfério norte, afundando na crise dos novos e rápidos contágios do coronavírus desde que o frio deu as caras. Acompanho as notícias diariamente e a situação é que desde outubro voltamos a viver sob medidas restritivas: máscaras em lugares fechados e também em via pública. Todos seguem? Não, mas a grande maioria sim e depende muito da cidade e da região. A Rússia é o maior país em território do planeta e não podem acreditar que a realidade de Moscou é a do país inteiro porque não é. As ordens partem de Moscou, porém cada governador tem autoridade para decidir e implementar  medidas de acordo à sua realidade local. Por exemplo, o governo tem resistido ao máximo fazer um confinamento total como foi entre março e até o fim de maio, mas hoje, 16 de novembro, a região da Buriatia declarou confinamento total a partir de hoje até o final de novembro porque a situação hospitalar saiu do controle e atualmente é a segunda região do país em número de mortes pelo coronavírus depois de Moscou. Tornando-se a primeira região do país a oficialmente voltar a ter o famoso lockdown, ou seja, tudo fechado, exceto mercados, farmácias e hospitais e a população sem poder circular.

Em Moscou, as medidas são seguidas e controladas com maior rigidez, já em São Peterburgo nem tanto. Sim, vi de uma hora para outra muitas pessoas usando máscaras, em algumas estações de metrô há seguranças, todos de máscaras, que gritam com todos que entram: "Máscara! Máscara!"😷, outros que aplicam as devidas multas e outros que não estão nem aí. Tem de tudo. Mas que a população está usando mais máscaras, está. Neste sábado estava conversando com um amigo russo e ele criticou que nos comércios não disponibilizam álcool em gel para quem entra e deveria ser obrigatório e eu disse para ele que achava estranho esse comentário porque desde  junho, em todos os lugares que entrei e entro eu vejo o álcool em gel e muitas vezes o utilizo para não perder tempo abrindo a bolsa e pegando o meu. Então, vejam, somos duas pessoas na mesma cidade com opinões diferentes. Será que ele não presta atenção ou tomou algum lugar que não tinha álcool e diz que nenhum tem? De repente sou eu a que defendo que tem? Talvez seja na região onde ele mora? Enfim, a meu favor posso afirmar  o que disse porque eu realmente uso o álcool em gel em todos os lugares onde entro e inclusive já aconteceu de entrar em um mercado, colocar a mão na maquinhinha do álcool e ele estar vazio, mas isso só aconteceu uma vez e  de setembro para cá já mudei de bairro, e até de cidade, tantas vezes que me sinto com propriedade de falar sobre todos os lugares em que entrei.

Fonte: The  Moscow Times
A realidade russa é que os números de contágio dispararam, (e o número diário de mortos também) alguns especialistas russos diziam, em outubro, que no início de novembro, alcançaríamos 20 mil contágios por dia, que esse seria o pico e depois disso diminuiría e que estava tudo sob controle (confesso que no contexto pandêmico mundial atual sempre desconfio de qualquer um que use a expressão "sob controle"👀), o problema é que já ultrapassamos 22 mil e  não parece que vai diminuir e temos o governo resistindo ao máximo fazer um confinamento. Já entrou em vigor o uso de máscaras, pede-se estar de luvas em locais fechados, mas ainda não é obrigatório como foi na primavera, bares, restaurantes e discotecas e todos os comércios noturnos precisam fechar às 23h desde 13 de novembro até 15 de janeiro de 2021. Teatros e cinemas continuam abertos desde que só recebam 25% de sua capacidade e não mais que isso. Em Moscou eventos públicos ou shows foram proibidos e no último sábado o governo também proibiu festas, eventos e feiras tradicionais e públicas de Natal e Ano Novo.

Com tudo o escrito acima já devem ter percebido que a população na Rússia NÃO FOI OU ESTÁ SENDO VACINADA, muitos me perguntam sobre isso. Estamos aqui enfrentando a situação como todos os demais países responsáveis: com medidas restritivas para evitar a circulação do vírus e tentar manter sob controle o sistema hospitalar. Infelizmente, esse novo vírus é uma loteria: alguns são assintomáticos, outros têm sintomas leves, outros graves por aguns dias, outros estão há meses internados e já com várias falências de órgãos e outros morrem. Se não sabemos o que pode acontecer conosco ou com as pessoas com quem convivemos direta ou indiretamente (e médicos e especialistas ainda não descobriram por que um único vírus reage de forma tão diferente em cada organismo), não vejo motivo para arriscar e ser contagiado. É o tipo de loteria que não vale a pena jogar. Se não tivermos que sair que o façamos o mínimo possível, mantenhamos, quando possível, uma distância de outras pessoas, usemos máscaras, luvas e álcool em gel quando estivermos fora de  casa.

A vacina Sputnik V 💉💉 está na terceira fase. Na semana passada, foi informado que até o momento ela está com 92% de eficácia nos voluntários que estão sob estudo e análise. As previsões mais otimistas é que ela seja aprovada pelos órgãos responsáveis entre dezembro e janeiro de 2021  e daí sua produção será massiva. O cronograma é como o da China, que também tem uma vacina sendo testada e avaliada: a primeira aplicação da vacina será no pessoal da saúde, nos profissionais de educação, no pessoal que trabalha  na área alimentar (mercados, distribuidores e afins) e farmácias, pessoal que trabalha diretamente com o grande público, políticos e isso deverá levar uns dois meses. Depois de vacinado este pessoal que é tido como prioritário viria a vacinação massiva. E vacinar toda a  população de um país deve levar em média, segundo prognósticos, seis meses. Se fizerem as contas dos meses perceberão que o problema permanerá em boa parte do ano de 2021. E, claro, esse é o prognóstico mais otimista.

Deixo aqui o link da matéria Vacinas: veja como funciona o processo de produção para que possam ter mais informação sobre o assunto.

Alguns amigos na Argentina ficaram com dúvidas já que o governo argentino anunciou a compra da Sputnik V. Para estes só posso dizer que não é porque o governo assinou a compra que ela será aplicada em uma semana. Por favor, menos! É como quando uma pessoa compra um imóvel na planta: assina-se um contrato por um imóvel que será entregue em dois ou três anos. Ou seja, a compra apenas está garantindo ser um dos primeiros a receber o imóvel/produto, no caso a vacina. E quando recebê-la, os laboratórios locais terão que fazer testes com voluntários argentinos que durará algum tempo até receber a aprovação antes de começar a vacinar a população. Ver alguns noticiários argentinos falando sobre a compra e dizendo que já vão vacinar os  argentinos como cobaias é de uma irresponsabilidade  incrível e acredito que estes apresentadores sabem que não é assim, mas querem ganhar ibope e se aparecerem um pouco. Não existe ciência sem um processo. Prestem atenção na ciência que não haverá dúvidas sobre quando, aproximadamente, poderemos ultrapassar este momento como foi em séculos anteriores. Não há motivos para alimentar truques de mágica e teorias da conspiração, a situação apenas precisa ser tomada com responsabilidade por todos.

PS: As fontes que utilizo para vocês são o site do themoscowtimes e tass.ru porque ambas estão em inglêse e de fácil acesso.

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