EUROPA NO INVERNO 06: Lidice_República Tcheca - Onde não conseguimos sorrir! Parte_01
Puxa, faz um tempão que não escrevo aqui. Sabe
aquele momento onde muitas coisas estão acontecendo na vida e quando me lembro
de escrever digo vou escrever assim que der e quando dá estou preguiça - ou sem
vontade mesmo - e com isso continuo deixando para depois? Pois é, foi isso o que
aconteceu. E agora que estou cheia de vontade de escrever nem sei por onde
começar. Fiquei pensando em todas as coisas que gostaria de escrever e como
este dia de outono está um pouco cinza, um pouco frio e eu ficando gripada,
decidi escrever sobre um lugar, um fato histórico que poucos fora da Europa
conhecem, mas que me atraiu feito um ímã: Lidice!
Ahhh, como começar a descrever esse lugar onde
o tempo deixou apenas alguns alicerces e uma belíssima escultura numa área verde
tão linda? Um lugar que transmite uma imensa paz e reflexão. Um lugar tão
bonito e com uma história tão triste que causa uma agonia no peito e a
pergunta: como o ser humano é capaz de acabar com outros de uma forma tão
rápida e completa?
Assim é Lidice, o lugar onde não conseguimos sorrir!
Vila: Lidice
País: atual República Tcheca
Data: 10 de junho de 1942
Fato: seu desaparecimento do mapa
Culpado: Hitler.
Em maio de 1942, um dos braços direito de
Hitler, Reinhard Heydrich, sofreu uma emboscada e morreu alguns dias depois,
causando assim toda uma perseguição em busca dos culpados por toda a
Tchecoslováquia. Entre tantas histórias que correram, uma ganhou maior força:
diziam que os participantes do atentando estavam escondidos numa vila, a 30
minutos de Praga, chamada Lidice.
No dia 10 de junho de 1942 os soldados nazistas
foram para Lidice e lá reuniram todos os 467 moradores e exigiram que
entregassem os culpados. Como nenhuma resposta foi dada, separaram todas as
mulheres dentro da igreja e avisaram que as crianças seriam enviadas aos campos de
trabalho forçado bem como os homens posteriormente. Colocaram as crianças num
ônibus e enviaram-nas ao campo de concentração de Chelmno, de onde sobreviveram
apenas 16. As mulheres, depois da ida das crianças, foram retiradas da igreja e
enviadas ao campo de concentração de Ravensbruck, também imaginando que estavam
sendo enviadas a campos de trabalho forçados. Nunca imaginaram que seriam
enviadas a um campo de concentração e muito menos o que aconteceria depois.
E o que aconteceu a seguir foi de uma bestialidade
total e sem limites!
Os soldados reuniram todos os homens na frente
da igreja e começaram a disparar em um homem de cada vez. Quando o trabalho
tornou-se cansativo, começaram a matar de cinco em cinco até não sobrar um
homem sequer. Todos os 173 homens (acima de 15 anos) foram assassinados. A
ordem de Hitler era clara: a vila deveria desaparecer, pois seria usada como
exemplo para todos aqueles que tentassem atentar contra qualquer um de seus
homens. Após o massacre dos homens, soldados nazistas começaram a retirar e a
queimar os corpos/esqueletos dos túmulos do pequeno cemitério, arrancar as
árvores desde as raízes e explodir todas as casas e construções. Em três dias a
vila de Lidice desapareceu.
173 homens mortos. 60 mulheres e 82 crianças (das
então 98 existentes) morreram nos campos de concentração. Dos 467 moradores, 315
morreram. E apesar de Hitler anunciar a todos o que fez com a vila, a notícia
não chegou ao campo de concentração onde as mulheres de Lidice estavam. As que
sobreviveram tiveram um segundo choque e algumas mais morreram de tristeza:
quando terminou a guerra e elas voltaram para sua vila, não havia vila. Não
havia absolutamente nada! E foi quando souberam da morte de seus homens e de
toda a destruição.
Hoje Lidice é um lugar calmo. Muito calmo. Os
tchecos decidiram não criar outra vila ou cidade em homenagem a todos aqueles
que perderam tudo ali. Há uma belíssima escultura representando as 82 crianças
mortas em tamanho natural que é o coração do lugar. (As fotos estarão na segunda parte deste post). As crianças foram
esculpidas entre 1969 e 1981 pela
artista tcheca Marie Uchytilova e tornadas bronze entre 1993 e 2000. Alguns
bancos de madeira para quem for ali refletir. Alguns alicerces da primeira casa
que existia, o da igreja, o da escola e o cemitério no fundo e logo na entrada
o museu contando a história.
Muitos começam pelo museu e depois vão caminhar pelo local. Eu comecei ao contrário. Como já tinha conhecimento da história caminhei, vi e admirei cada ângulo da escultura, que está sempre com flores, brinquedos e ursinhos de pelúcia que os visitantes deixam. Vi a escultura de uma mulher de Lidice que fizeram no meio do lugar. Um cachorro que misteriosamente desapareceu depois (sim, fiquei com medo!). E um senhor com um cachorrinho muito chato que não parava de latir para mim (já desse não dava para ter dúvidas). Sentei-me num dos bancos e olhei, admirei o lugar e a força destrutiva do ser humano sobre outro.
Muitos começam pelo museu e depois vão caminhar pelo local. Eu comecei ao contrário. Como já tinha conhecimento da história caminhei, vi e admirei cada ângulo da escultura, que está sempre com flores, brinquedos e ursinhos de pelúcia que os visitantes deixam. Vi a escultura de uma mulher de Lidice que fizeram no meio do lugar. Um cachorro que misteriosamente desapareceu depois (sim, fiquei com medo!). E um senhor com um cachorrinho muito chato que não parava de latir para mim (já desse não dava para ter dúvidas). Sentei-me num dos bancos e olhei, admirei o lugar e a força destrutiva do ser humano sobre outro.
Saí dali e fui até o museu. Eu era a única
visitante naquele momento e isso tornou a visita ainda mais impactante para mim.
Paguei minha entrada (80 coroas tchecas, mais ou menos 4 euros), entrei na sala
que tem um vídeo, em inglês, mostrando como a Tchecoslováquia apoiava Hitler
através de jornais. O atentado e posterior morte de Heydrich. A perseguição dos
nazistas aos culpados. As primeiras notícias que apontavam para Lidice e a
posterior ocupação da vila pelo exército alemão. Fotos do cotidiano da vila e o
vídeo termina com as explosões das casas e da igreja que desapareceram com a
vila e que te deixa chocado ao ver como a vida dessas 467 pessoas, até então
comum, deixou de existir no dia 10 de junho. Tudo aconteceu em três dias. Depois
passei para a sala com fotos e os poucos objetos que sobraram da vila. E por
pouco estou falando de 5 pedacinhos de objetos e uma camisa ensanguentada encontrada.
Isso foi tudo o que sobrou da vila além de algumas fotos. Tem uma salinha
dedicada a todos os homens e dói o coração saber que um dos meninos
assassinados tinha feito 15 anos uma semana antes. Por uma semana ele poderia
ter sido enviado ao campo de concentração! Talvez viesse a morrer como tantos
outros. Talvez não. Nunca saberemos. Ali estão as fotos de todos eles. Inclusive
deles todos mortos e empilhados.
Na segunda parte deste post mais história, fotos e dicas de como chegar.
Na segunda parte deste post mais história, fotos e dicas de como chegar.
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