Europa_37: Croácia: Dubrovnik_02
No dia 26/06 saí de Firenze às 12h para chegar
em Bari às 17h, com tempo para conhecer rapidamente essa cidade e depois
guardar minha mochila. Pois temos que nos apresentar no porto às 19h e nas sete
páginas!! que eu imprimi do contrato, com o roteiro e os dados, isso vinha em
letras garrafais: Chegar até às 19h! Acontece que o trem atrasou e muito!
Comecei a ficar desesperada. Eu já tinha feito as unhas, chapinha, separado o
lençol, a comida, água, tudo que levaria comigo e nada do trem chegar. Às 18h,
eu tinha o nariz no vidro e comecei a fazer cálculos e tentar adivinhar a
direção do porto de Bari. Numa das setes páginas dizia que da estação até o
porto de ônibus durava de 15 a 20 min. Comecei a fazer mil e um cálculos,
afinal se eu conseguisse saber a direção do porto e o tamanho da cidade eu
saberia se eu precisaria gastar ou não com táxi, o que não estava nos planos,
não tanto pelo dinheiro, mas sim porque eu já sabia que carros e táxis não
entram no porto. Eles te deixam na entrada e daí tem que esperar o ônibus do
porto, que aparece só Deus sabe quando, para levá-lo até os navios. Bem, o trem
chegou! Às 18h30! Sai correndo da estação, a pequena rodoviária é logo em
frente, fui atrás do número do único ônibus que me deixaria lá e o próximo
sairia em 10 min. Mais contas! Daria tempo? Tinha que dar. O motorista só
precisava não parar em nenhum sinal vermelho e o mais importante: que saísse
exatamente na hora marcada e não fizesse como o trem que chegou quase duas
horas depois.
Vista de Bari da janela do trem. |
Enquanto esperava, ouvi um rapaz tentando usar
um italiano que não estava dando muito certo para perguntar sobre um navio e o pessoal não entendia o que ele falava. Ele foi até o posto para
comprar a passagem do ônibus e o senhor também não entendia, então eu perguntei
a ele em inglês onde ele iria e ele, aliviadíssimo, me disse que queria ir para
o porto e tinha que chegar às 21h. Fiquei feliz, afinal se eu me perdesse já
teria alguém ficaria perdido comigo. jajajaja
Falei com ele, ele comprou a passagem e ficamos
conversando todo o caminho (sim, o ônibus chegou e saiu na hora!) em inglês,
ele com aquele sotaque do leste europeu. O meu novo amigo era Emilijaj, da
Albania, que adora futebol (conhecia todos os jogadores do Brasil e da
Argentina), muito simpático e que num determinado momento disse que eu deveria
ir com ele para a Albânia, que ele me mostraria o seu país, que é muito lindo,
pegaria o carro e no dia seguinte me levaria para conhecer Montenegro e à tarde
me deixaria em Dubrovnik. Fiquei tentada, seria muuuita aventura, mas a
tentação durou pouco quando lembrei que o Leste Europeu é famoso pelo tráfico
de mulheres internacional e eu já estava bastante preocupada em estar indo para
lá sozinha.
Emoção: Leste Europeu e primeira viagem de navio. |
Ele me ajudou com o processo de trocar aquelas
páginas pela passagem de navio e quando entramos na fila da Imigração
descobrimos que não iríamos no mesmo navio. Foi uma pena e ele mais uma vez
disse para eu rasgar minha passagem, que me ajudaria a comprar uma para ir com
ele para a Albânia. Foi muito divertido e assim nos separamos. Mas depois eu o
vi, ou acho que era ele, no outro navio, mas a distância era muito grande. Eu
até utilizei a máquina fotográfica e dei zoom para ver melhor, mas não deu.
Mantemos contato até hoje. O meu amigo se casou
no ano passado, mas ainda continua gostando do futebol brasileiro e agora um
primo dele entrou em contato comigo. jajajaja. São as surpresas que acontecem
quando viajamos sozinhos ou abertos a conhecer outras pessoas. Se me arrependo
de não ter ido com ele naquela aventura? Hummmm, já pensei muito nisso, mas
não, não me arrependo. Uma aventura por vez já é o suficiente para o coração.
Pois é....lembranças, lembranças. Às 22h10 o
navio estava cheio, lotado de italianos e meia dúzia de mochileiros
(literalmente éramos uns 5 ou 6). Eu era a única brasileira, sozinha fazendo
aquela viagem. Até hoje fecho meus olhos e sinto a sensação poderosa que tomou
conta de mim naquele momento quando o navio zarpou. Acho que eu nunca tinha me
sentindo daquele jeito. A partir daquele momento, eu era capaz de fazer
qualquer coisa, pelo simples fato de que eu podia fazer. Foi muito, muito bom.
Fiquei ali acompanhando o porto cada vez mais distante, as pessoas conversando
pelo deck, até que uma senhora sentou ao meu lado e mandou o neto sentar
também. Ela disse que eu era muito bonita e que o neto deveria conversar comigo por
isso. Eu ri muito falando com eles e ela dizia que além de bonita era simpática
e muito corajosa e me deu um beijo na bochecha quando se despediu, não antes de
dizer que o neto deveria me beijar também e ele assim o fez pedindo mil
desculpas. Depois tirei fotos para algumas famílias e fui procurar onde era o
tal lugar que poderia dormir. Olhei para as mesas e cadeiras desconfortáveis do
restaurante, mas quando passou da meia-noite, as pessoas foram indo para as
suas cabines e então descobri os mochileiros e algumas famílias com crianças
que também compram esta opção mais barata de viagem se arrumando numa parte de
dentro do navio. Fica exatamente ao lado do restaurante, com calefação e com
carpete. As pessoas colocam as mesas nos cantos e forram seus lençóis. A
família armou uma barraca, colocou esses sacos de dormir e dormiram os pais e as
crianças, cada um no seu saco.
Porto de Dubrovnik |
No outro canto havia dois rapazes conversando
em inglês. No outro duas amigas mochileiras também e eu fui para o canto perto
delas. Coloquei meu celular e máquina para carregar e peguei meu lençol. Era um
lençol fino, porque a calefação e o carpete deixavam o navio bastante quente.
De repente, sinto um cheiro horrível, quase vomitei de tão forte que veio. Era
uma das meninas mochileira que tirou a sandália e daí saiu um pé tão preto que
só tinha visto em mendigos e um fedor que era algo inacreditável. Aquele pé não
via água por no mínimo 2 semanas. Fiquei impressionada. Eu já estava viajando
com a minha mochila um tempo, mas nunca encontrei um motivo para não tomar
banho. Mesmo se a viagem dura mais de 10h, para isso existem os lenços
umedecidos e nos banheiros sempre têm sabão, água e papel, ou seja, não tem
desculpa nem explicação. Eu estava indignada em ver uma garota tão jovem e
bonita com tanta sujeira. Até cogitei em mudar de lugar porque estava
impossível, mas era o único lugar onde havia apenas meninas e era muito mais
seguro. Por sorte, o olfato depois de 3 minutos se acostuma a qualquer cheiro e
parece que já não o sentimos mesmo ele estando ali. E foi assim que indignada
comecei a escrever na minha caderneta todas essas emoções desse trecho da
viagem e quando vi já estava dormindo.
Com este lindo amanhecer qualquer pessoa fica feliz. |
Foi uma das melhores noites que tive por
incrível que pareça. O balanço do mar, a satisfação de mais uma realização, o
chão duro (que para a minha coluna foi ótimo) e fofo e quentinho ao mesmo
tempo, não sei. Só sei que dormi muito bem. Acordei às 5h30, guardei minhas
coisas, fui ao banheiro fazer o asseio e fui ver o lindo dia que me brindava o
mar Adriático. O nascer do sol foi lindo, nem preciso dizer que o sorriso não
saia da minha cara. jajaja
Dubrovnik pela primeira vez. As fotos nem precisam de efeitos.... |
...tamanha é a beleza do mar e do lugar. |
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